GÉNEROS DE DIVISÃO.
(PT)




O animal que é o ser humano homo sapiens sapiens existe há cerca de 300000 anos. Auto-intitulamo-nos como a espécie inteligente, e acredito que isso advenha da nossa capacidade de comunicar e consequentemente evoluir, assim como da nossa auto consciência e capacidade de reflexão.

Daqui a um tempo indefinido, concluiremos que dividir a humanidade em dois géneros imaginários foi uma solução e subcategorização que teve que chegar ao fim, pois a redução das qualidades de um ser humano a meia dúzia de características temporárias é ingrato perante a nossa infinita diversidade. Já toda a gente ouviu observações e teorias que nos trouxeram a esta errada divisão (e as pessoas interssexo?), porém estamos agora na posse de informação e conhecimentos que nos revelam que, felizmente, o bicho pessoa não é assim tão limitado. Não existe "cérebro de mulher" nem "cérebro de homem" (ver "Cérebro e Género" de Daphna Joel e Luba Vikhanski), a ciência tem evolído ao provar-se a si mesma errada e estamos perante uma era que nos fará reflectir profundamente sobre quem somos e como nos definimos.

As palavras "feminina" e "masculina", "feminino" e "masculino" suscitam-me uma forte vontade de refletir sobre elas e sobre a sua aplicação  contexto. Acredito que estas, como adjectivos, podem facilmente ser substituídas por palavras mais objectivas e sapientes para com a ideia a ser transmitida. Temos um vocabulário tão vasto e versátil, uma capacidade e nos expressarmos inigualável, que nos chama a utilizá-la e a evoluí-la. A linguagem é plástica, serve para nos servir (e por isso o "masculino universal" já não tem espaço na minha fala e escrita), tem evoluído ao longo dos anos, continuará a evoluir, e nós temos um papel inevitável na linguagem e comunicação.

De relembrar que o que escrevemos são penas gatafunhos e grunhidos, que fomos aprendendo umas com as outras ao longo da vida desde que somos pequeninas. Há pouca coisa mais fascinante do que esta nossa obscura capacidade de comunicar. Já viram quantas linguas existem, existiram, e existirão daqui para a frente?

As palavras trazem consigo definições, definem um limite, um espaço, um tempo, um objecto, um conceito. Definir implica, de alguma forma, dividir ou separar. Acontece o mesmo connosco e com as nossas características: cada característica terá entretanto o seu lado como qualidade e o lado em que é defeito, dependendo da perspectiva, referências, fatores. Aqui entrelaço também o conceito da sombra humana que Carl Jung nos apresentou, que se revela pertinente nesta reflexão sobre como nos percepcionamos, definimos e conhecemos. Somos seres completes, e é necessário que entendamos e integremos isso, para além do conceito de género.

Este navegar no conceito de divisão e dualidade realça uma observação que me tem surgido bastante: tudo o que é levado ao seu limite, vira o seu contrário. Creio ser a versão escrita do símbolo yin yang. E vejo isto a acontecer nos assuntos previamente apontados, assim como nos mais variados aspectos da existência.

Acredito que somos todas pessoas completes, não nos devemos limitar aos antifos e imaginários papéis de género, e é ingrato para comigo mesma definir-me e ao mundo que me rodeia e acolhe por características temporárias, a nossa evolução é constante e só depende da nossa vontade de aceitarmos as mudanças inevitáveis. E isso também tem que ver com a liberdade que nos damos a nós mesmas.

Acho que o ser humano tem diferentes características entre si, acredito que a divisão em género tenha acontecido perante o potencial reprodutivo de cada pessoa, e que já chegámos à era em que os nossos cerebrozinhos estão prontos para lidar com as nossas inseguranças e seguir em frente com a evolução. A evolução só acontece na liberdade, e a liberdade só acontece quando somos pessoas informadas e buscamos o conhecimento sem receio. A partilha da informação e sabedoria é fulcral para a nossa evolução e crescimento, e termino esta reflexão com ênfase na relevância da educação e no respeito e carinho pelas crianças.




Numa análise pós escrita, reconheço a ironia de sugerir deixar de utilizar duas/quatro palavras, dizendo-as. Reconheço também que têm um papel na linguagem, sendo esse o papel de definir gramaticalmente algo que deve cessar de existir na sua definição. É complexo e ainda estou a filosofar sobre isso. Um bem haja a todas as pessoas que gostam de pensar e desafiar








(ideiazinhas apontadas a janeiro de 2024)